Este trabalho trata sobre o desejo, e um tanto assim de sentimentos/impressões/ coisas que o perpassam e que são perpassados por ele.
A obra de Leonilson, nas palavras de Lisette Lagnado, foi movida “pela compulsão de registrar sua interioridade, a fim de dedicá-las aos objetos do desejo”. Para Leonilson, a obra é corpo.
Isso nos serve de inspiração para tentarmos pensar o desejo não somente como falta, carência, tal como se estabelecem as linhas de montagem do desejo, na produção de subjetividade capitalística, como nos aponta Félix Guattari. Desinvestirmos dessas linhas de montagem e investirmos noutras linhas, quer dizer abrirmos espaço para o desejo como afirmação ou invenção da vida.
As coisas não se reduzem a uma só verdade. Assim como o desejo não se reduz nem a um bem inquestionável nem a um mal necessário. Nem bem nem mal. Nem só falta nem só excesso. Nem só prazer nem só dor. Nem só o que nos faz ficar, nem só o que nos faz partir.
Porque existe a intensidade e intenso não é só o que se move largo, extenso, acelerado. Cabe num travesseiro, o desejo maior do mundo. Um travesseiro bordado, escrito ninguém. Intensa não é a vida que nos cabe: é toda vida que couber em nós.
Vontade, então, de um corpo labiríntico, ambíguo, onde as saídas não são conhecidas. Não mais o lugar seguro, a casa, o quarto, o amor de um jeito só, comportado num corpo só, que é só, imóvel de outro. O corpo num devir-animal, “onde não há passado, nem futuro, e sequer presente; não há história” (Deleuze).
Nossa intenção não se reduz a recriar cenicamente o universo proposto por Leonilson. As imagens e referências sugeridas por seu imaginário devem nos servir como provocações, “meios de orientação para conduzir uma experimentação que ultrapassa nossas capacidades de prever. É um processo de devir-animal que não quer dizer nada a não ser o que ele se torna, e me faz tornar com ele. (...) Todo um mundo de micro-percepções que nos leva ao imperceptível.” (Deleuze)
A vida intensa que nos chega nas pequenas percepções, no miúdo do cotidiano, o detalhe que atrai o olho, uma cor, um pequeno gesto, um silêncio, um vazio. Coisinhas calminhas que sugerem não só uma economia de tempo e espaço, como também de movimento. Mais que economia, uma sobriedade. Numa época de excesso, o mínimo se nos impõe.
A pesquisa de movimento tende a interessar-se pela variação do tônus muscular. “Embora invisíveis, o espaço, o ar adquirem texturas diversas. Tornam-se densos ou tênues, tonificantes ou irrespiráveis. Como se recobrissem as coisas com um invólucro semelhante à pele: o espaço do corpo é a pele que se prolonga no espaço, a pele tornada espaço.” (José Gil)
Estimulando possíveis nesse corpo-onde-tudo-se-inscreve, à cata do entre a forma, do que não se explicita, do que desliza, do que escapa a uma configuração dura ou a formas pré-determinadas, como se com isso – e por causa disso – escapássemos nós mesmos de nossas posturas mais rígidas, de nossos preconceitos mais arraigados.
Cores, símbolos. Coisas. Tecido, pedra, corpo. Não se trata mais de costurarmos nossa própria carne, imagem já vista e gasta na arte contemporânea, Trata-se de, corpo parado ao vento e algum silêncio, perguntarmos: o que está escrito? Como continuar escrevendo? Mais uma vez a questão que não se aquieta: de que afetos você é capaz?
Maciez, aspereza. Fluidez. Texturas. (De objetos, imagens, movimentos.) O delicado. O Perigoso. A pele em contato com. Lembrando que, afinal, “o mais profundo é a pele” (Paul Valéry).
Objetos de um Leonilson mais que ambíguo, múltiplo: as pedras, os cristais, os tecidos, um travesseiro, uma calça jeans. Um corpo, um objeto e suas relações. Corpo-objeto, depositário de afetos, resíduo de fluxos. Relíquias de um homem-peixe, “com o oceano inteiro para nadar”.
A obra de Leonilson, nas palavras de Lisette Lagnado, foi movida “pela compulsão de registrar sua interioridade, a fim de dedicá-las aos objetos do desejo”. Para Leonilson, a obra é corpo.
Isso nos serve de inspiração para tentarmos pensar o desejo não somente como falta, carência, tal como se estabelecem as linhas de montagem do desejo, na produção de subjetividade capitalística, como nos aponta Félix Guattari. Desinvestirmos dessas linhas de montagem e investirmos noutras linhas, quer dizer abrirmos espaço para o desejo como afirmação ou invenção da vida.
As coisas não se reduzem a uma só verdade. Assim como o desejo não se reduz nem a um bem inquestionável nem a um mal necessário. Nem bem nem mal. Nem só falta nem só excesso. Nem só prazer nem só dor. Nem só o que nos faz ficar, nem só o que nos faz partir.
Porque existe a intensidade e intenso não é só o que se move largo, extenso, acelerado. Cabe num travesseiro, o desejo maior do mundo. Um travesseiro bordado, escrito ninguém. Intensa não é a vida que nos cabe: é toda vida que couber em nós.
Vontade, então, de um corpo labiríntico, ambíguo, onde as saídas não são conhecidas. Não mais o lugar seguro, a casa, o quarto, o amor de um jeito só, comportado num corpo só, que é só, imóvel de outro. O corpo num devir-animal, “onde não há passado, nem futuro, e sequer presente; não há história” (Deleuze).
Nossa intenção não se reduz a recriar cenicamente o universo proposto por Leonilson. As imagens e referências sugeridas por seu imaginário devem nos servir como provocações, “meios de orientação para conduzir uma experimentação que ultrapassa nossas capacidades de prever. É um processo de devir-animal que não quer dizer nada a não ser o que ele se torna, e me faz tornar com ele. (...) Todo um mundo de micro-percepções que nos leva ao imperceptível.” (Deleuze)
A vida intensa que nos chega nas pequenas percepções, no miúdo do cotidiano, o detalhe que atrai o olho, uma cor, um pequeno gesto, um silêncio, um vazio. Coisinhas calminhas que sugerem não só uma economia de tempo e espaço, como também de movimento. Mais que economia, uma sobriedade. Numa época de excesso, o mínimo se nos impõe.
A pesquisa de movimento tende a interessar-se pela variação do tônus muscular. “Embora invisíveis, o espaço, o ar adquirem texturas diversas. Tornam-se densos ou tênues, tonificantes ou irrespiráveis. Como se recobrissem as coisas com um invólucro semelhante à pele: o espaço do corpo é a pele que se prolonga no espaço, a pele tornada espaço.” (José Gil)
Estimulando possíveis nesse corpo-onde-tudo-se-inscreve, à cata do entre a forma, do que não se explicita, do que desliza, do que escapa a uma configuração dura ou a formas pré-determinadas, como se com isso – e por causa disso – escapássemos nós mesmos de nossas posturas mais rígidas, de nossos preconceitos mais arraigados.
Cores, símbolos. Coisas. Tecido, pedra, corpo. Não se trata mais de costurarmos nossa própria carne, imagem já vista e gasta na arte contemporânea, Trata-se de, corpo parado ao vento e algum silêncio, perguntarmos: o que está escrito? Como continuar escrevendo? Mais uma vez a questão que não se aquieta: de que afetos você é capaz?
Maciez, aspereza. Fluidez. Texturas. (De objetos, imagens, movimentos.) O delicado. O Perigoso. A pele em contato com. Lembrando que, afinal, “o mais profundo é a pele” (Paul Valéry).
Objetos de um Leonilson mais que ambíguo, múltiplo: as pedras, os cristais, os tecidos, um travesseiro, uma calça jeans. Um corpo, um objeto e suas relações. Corpo-objeto, depositário de afetos, resíduo de fluxos. Relíquias de um homem-peixe, “com o oceano inteiro para nadar”.
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